A Importância da Literatura

 

 

A civilização humana adora inventar histórias e faz isso a milênios a fio. É até motivo de debate se o que veio primeiro foi a arte de inventar histórias ou se foi a arte de contar histórias reais. Eu arrisco dizer que a arte de contar histórias inventadas, isto é, ficcionais, veio antes mesmo da arte de contar histórias reais. Isto porque eu posso imaginar perfeitamente o homem primitivo contando um evento acontecido para sua tribo, enfeitando e interpretando… se distanciando bastante do evento real.
    Isso acontece devido a natureza subjetiva da psique humana. Tendemos a idealizar, a imaginar o mundo melhor do que ele é, melhor na opinião de cada um, é claro. Imagine uuma civilização humana restritamente objetiva, que só lida com os fatos, duros e concretos… uma civilização assim nunca cresceria porque não conseguiria imaginar o mundo à sua volta melhor do que ele é; e portanto seria incapaz de melhorá-lo. Ele veria uma planície verdejante, mas seria incapaz de imaginar um lindo vilarejo nesta planície, onde seu povo poderia morar feliz.  Ele colheria os frutos nativos mas nunca iria imaginar plantar seu próprio pomar. Somos uma espécie evoluída devido a nossa capacidade de imaginar.
    As histórias fictícias são o exercício inconsciente de nossa criatividade, um subproduto involuntário do nosso aprendizado. E quando uma história começa a surgir na nossa mente, podemos tentar nos concentrar no mundo real, no nosso trabalho secular, mas não conseguimos impedi-la de acontecer dentro da nossa cabeça, e a trama vai acontecendo, com personagens sendo criados espontaneamente, aparecendo em dúzias e criando vida própria em nossa mente, tomando atitudes inusitadas, bolando planos mirabolantes, que ninguém pensaria, dentro de uma história excêntrica, que ninguém imaginaria… e vai crescendo na nossa cabeça como um câncer de cérebro, implacável! E a única cura, a única coisa que, ao menos, controla esse crescimento é escrevendo-a, tentando colocar ordem nessas ideias, e não raro temos só um conhecimento precário na arte de escrita criativa, e na falta de técnica escrevemos por instinto.

E finalmente a história vai fluindo, como se cavássemos um canal para distribuir um rio desgovernado por uma plantação. E nossos amigos leem a história e se maravilham, e seus personagens inventados inspiram pessoas, dão novas ideias, assim como o canal fertiliza a terra e coisas crescem por isso.
    Histórias ficcionais acontecem em nossa cabeça, como uma espécie de vício antropológico mas elas, sim, tem muito valor para o conhecimento humano. Não que ficção seja didática ou moralista mas, quando o artista observa o mundo, e mimetiza o que vê em sua arte, e a vida, por sua vez, imita essa arte, o artista talvez esteja nos provendo... sabedoria perdida, que nenhuma ciência objetiva alcança mais. E isso inspira ao invés de simplesmente ensinar. A imaginação é ingrediente indispensável ao desenvolvimento.

 


 

 

 

2 comentários:

  1. Olá Fernando,
    Muito interessante seu texto.
    Conforme lia, fiquei pensando se sou uma dessas pessoas que inventam histórias.
    Não sou de inventar... Mas omito algumas coisas. Ainda mais quando essas coisas podem ferir o orgulho de outras pessoas.
    Agora eu costumo muito sonhar... Sonhar acordada e inventar histórias sobre mim. Geralmente, sou uma pessoa que na vida real, não sou.rsrs
    Abraço!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Você escreve histórias na sua própria cabeça onde você é a protagonista. É saudável... dá pra viajar milhões de anos no tempo ou milhões de anos-luz no espaço...

      Excluir

Fernando Vrech. Imagens de tema por andynwt. Tecnologia do Blogger.