Qualquer um é Capaz de ser Autodidata !



   Até a uns quarenta anos atrás, existia uma elite de intelectuais. Eles tinham acesso às melhores universidades, podiam comprar uma montanha de livros, contratar os melhores professores quando precisassem e depois saíam por aí, de pôser, sacaneando e abusando do ad hominem quando confrontados por pessoas menos instruídas que discordassem deles. O que eles diziam era considerado... verdade absoluta; afinal nem todo mundo tinha a instrução deles.
   Mas logo houve uma revolução tecnológica e social. Se não foi a maior revolução da história eu admito que é a minha revolução preferida: a internet. A internet permitiu o acesso fácil e barato às melhores - bem como às piores - informações sobre o assunto que for. A informação, mesmo a informação técnica e acadêmica, estava finalmente ao alcance de pessoas de todo o tipo. Parte da antiga elite intelectual também gostou das facilidades da internet, mas muitos odiaram. E acreditem quando eu digo que tentaram de tudo para impedir o desenvolvimento da internet.
   E não é para menos. A elite de especialistas, na sua maioria diplomados, estava acostumada com as pessoas aceitando a visão deles sobre assuntos científicos como sendo a verdade absoluta. Mas hoje em dia, as ideias deles são questionadas e algumas vezes mesmo refutadas... pelo Zé do ZapZap.
   Hoje em dia não é difícil o próprio paciente apresentar ao médico terapias para o seu próprio problema que nem mesmo esse médico sabia! 
   O método antigo do profissional se atualizar, o livro, ainda em uso hoje por apresentar uma informação mais polida, envolve esperar o livro ser escrito, editado, publicado e por fim comprado quando chegar na livraria; e não é incomum que, quando finalmente o profissional consegue obter esse livro, novas informações já estejam sendo escritas para refutar a informação que o profissional nem começou a ler.
   As informações viajam muito mais rápido pela internet; e, para se manter atualizado hoje em dia, é preciso ficar antenado nela diariamente. E muitas vezes é o autodidata, que bebe dessa fonte mais diretamente, que se atualiza primeiro.
   A autoditática é um fenômeno muito antigo. Eram autodidatas muitas das personalidades mais brilhantes da história, como Machado de Assis, Isaac Newton, Leonardo da Vinci, Santos Dumont, Abraham Lincoln... Ora, todos os cientistas que fundaram uma nova ciência era autodidatas por definição.
   Mas nunca existiu uma época melhor para ser autodidata! Justamente por causa da internet, que muitos gostam de chamar de "A Democratizadora da Informação."
   Mas mesmo sendo nós nautas em um oceano de informação, não é preciso saber muito para entender que aprender não é simplesmente ler o que os outros escrevem, ouvir o que os outros dizem... É necessário todo o um processo metodológico de aprendizado.
   Em uma universidade, a informação necessária para graduar os estudantes passa por um processo até estar acessível a esses estudantes: 
   1. Primeiro se pesquisa sobre as áreas, convém então filtrar a informação para torná-la de qualidade (embora saibamos que não é raro uma universidade apresentar informação de baixíssima qualidade);
   2. Depois é preciso organizar a informação acumulada para ser ensinada de forma programática, resultando no que chamamos de Conteúdo Programático (são aqueles tópicos que as universidades apresentam em seu marketing).
   3. Então as universidades organizam os meios para a transmissão dessas informações. Basicamente os professores e, por sua vez, a definição do material didático que o estudante deve obter, comprando ou de forma gratuita.
   Bom, ser autodidata é, simplesmente, realizar todos esses processos sozinho. O que não é necessariamente um esforço desconfortável; muitos autodidatas derivam prazer justamente desse processo.
   Há também duas principais abordagens de autodidática: a pragmática e a orgânica. A primeira consiste em criar um conteúdo programático, como as universidades fazem, e estudar a área de forma metódica, tendo o estudo como o principal objetivo. A segunda, que eu chamo de "orgânica", é quando uma pessoa tem um objetivo que envolve conhecimento acadêmico e vai estudando conforme a necessidade. Por exemplo, um tradutor que se aventura em um texto de um idioma que conhece pouco e estuda esse idioma na medida em que traduz; ou um programador que estuda a linguagem de programação na medida em que programa o software. Quem quer ser autodidata também deve refletir sobre qual das duas abordagem vai seguir: se ele só tem curiosidade pela área, talvez ele queira ser metódico, mas se ele tem a vontade e o objetivo de já realizar algo que precise do conhecimento, talvez ele se dê conta de que seria melhor começar a aprender sob a demanda que este objetivo solicita.
   Um autodidata não irá contratar professores para ensiná-lo (aí não se encaixariam na definição de autodidatas), o passo 3 é feito exclusivamente com a obtenção de material didático: livros e artigos CONFIÁVEIS pela internet. Mas onde buscar material didático pela internet?
   Baixar livros digitalizados completos, pela internet, é possível mas, infelizmente, é ilegal. No entanto, livros digitalizados, relativamente modernos, podem ser visualizados de forma legal em sua quase totalidade por meio da ferramenta Google Books.  
   Livros didáticos antigos, cujos direitos autorais já venceram, também podem ser encontrados aos montes em sites como Archive.org (eu sou um dos ratos dessa imensa biblioteca de livros antigos e a considero ideal para autodidatas historiadores ou linguistas, e todos os que precisarem recorrer aos grandes nomes dos tempos antigos, como filósofos e cientistas primordiais).
   Existe também muita informação disponibilizada gratuitamente em forma de e-books por universidades e pelo MEC. Você também pode buscar informação em TCCs, teses e monólogos que os estudantes publicam gratuitamente. 
   E ainda há o que eu gosto de chamar de "Garimpo de Informação", que consiste em usar e abusar da ferramenta de busca, à procura de todo o tipo de artigo sobre o assunto e depois analisar a qualidade e confiabilidade dessas informações, verdadeiros tesouros ocultos da Web.
   Mesmo áreas do conhecimento que não pertencem à convencionalidade acadêmica podem ser aprendidas assim. E no caso, podem ser aprendidas unicamente por meio da autodidática. Por exemplo, aquelas áreas cabulosas como criptozoologia e ufologia, ou então certas áreas artesanais, como bijuteria, bordado, tricô e assim por diante.
   Porém, há algumas áreas cuja prática exige o diploma oficial emitido por uma universidade. Alguma áreas que não seriam apropriadas aprender sozinho PARA PRATICÁ-LAS seria a medicina, a biologia, entre outras. Não é preciso dizer que você não deve sair por aí distribuindo remédios de tarja preta e nem dissecando bichinhos em nome da ciência, não é?
   Um ponto de suma importância é escolher áreas do conhecimento que você goste. Tem gente que gosta tanto de uma área específica que adquire um conhecimento absurdo e nem percebe, porque simplesmente se informa sobre o assunto por entretenimento. Embora seja perfeitamente possível aprender algo que você não gosta, se for necessário, não será um esforço para você se você escolher uma área pela qual você já tenha afinidade.
   E senso crítico é obrigatório para transformar esse conhecimento acumulado em conhecimento de qualidade.
   Com a internet mais acessível  do que nunca a todo o cidadão que se preze, você pode ser o que você quiser, muitas vezes gratuitamente. E então poderá até ganhar dinheiro usando esse novo conhecimento!


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