Pessoas Reais que Inspiraram Personagens
Você lê um livro com um personagem bizarro e exclama... "Só em livros mesmo!" Mas, e se eu te dissesse que vários dos personagens mais improváveis da ficção não só foram inspirados em pessoas reais como também algumas dessas pessoas eram mais estrambóticas que os personagens que eles inspiraram?
Convido vocês a considerarem comigo neste artigo que nem mesmo a ideia mais maluca da ficção surge do nada, sempre há um fundo de realidade na história mais fantástica.
Veremos cinco pessoas que inspiraram personagens da literatura, mas eu sei que há muito mais exemplos disso porque eu precisei escolher dentre muitos para o artigo ficar em um tamanho adequado.
Alexander Selkirk, o real Robinson Crusoé.
Antes de se tornar um filme, a história de Robinson Crusoé era originalmente um roman-ce do escritor Daniel DeFoe; de fato, a maior parte dos personagens desse artigo, que você, provavelmente, identifi-cará em filmes, são originalmente de livros.
O Robinson Crusoé de DeFoe era um persona-gem impaciente, mas Selkirk, o marinheiro escocês que inspirou o personagem, era simples-mente insuportável. Vivia recebendo intimações da lei por conta de seu comportamento explosivo e rebelde, e ele sempre fugia das audiências zarpando para o mar, onde ele aprendeu o ofício de marinheiro.
Certa vez, o seu irmão Andrew lhe fez uma brincadeira de mal gosto, oferecendo-lhe um copo de água que na verdade era água salgada, do oceano. Selkirk começou a espancar o irmão, e depois também o irmão mais velho, John, que tentou apartar os dois, por conseguinte o pai deles apanhou de Selkirk e até mesmo a sua cunhada, esposa de John, recebeu um forte golpe na cabeça.
Durante a consequente audiência, perante a igreja, Selkirk foi intimado a confessar publicamente seus pecados e a prometer se regenerar "em nome do Senhor." Com essa humilhação, ele partiu novamente para o mar na primeira primavera, desta vez, permanentemente.
Alexander Selkirk fez carreira como marinheiro, inclusive participando da tripulação da frota de William Dampier, um famoso explorador Ingles da época. Selkirk serviu como Mestre de Navegação, na galé Cinque Ports, navio que fazia parte da frota de Dampier.
Em outubro de 1704, a galé Cinque Ports desembarcou na ilha de Más a Tierra, onde os espanhóis fizeram uma tentativa mau sucedida de colonização. Era uma ilha totalmente abandonada, mas alguns navios ainda desembarcavam ali para se reabastecerem de água doce.
Selkirk avaliou que a galé não era bem adaptada ao clima tropical, e resmungou ao seu capitão que preferia ficar na ilha a naufragar na Cinque Ports. Ele tentou convencer seus colegas a desertarem também sem sucesso. O capitão da Cinque Ports discordou das avaliações de Selkirk mas declarou que concederia seu desejo de ficar na ilha, abandonando-o na mesma.
Em Más a Tierra, Selkirk ficou ilhado por quatro anos e quatro meses. Diferente de Robinson Crusoé, todos os seus pertences ficaram com ele, incluindo um mosquete, pólvora, várias ferramentas náuticas, mudas de roupa e uma corda. Portanto, o verdadeiro Robinson Crusoé não teve dificuldade em fazer a sua primeira fogueira, nem precisou tecer cordas usando matinho.
Uma gruta onde Alexander Selkirk se abrigou na ilha de Más a Tierra. |
Inicialmente, Selkirk tinha medo dos barulhos estranhos que ouvia na ilha, portanto ficava sempre próximo a praia, comendo frutos do mar. Mas quando ferozes leões-marinhos chegaram à sua praia para o acasalamento, Selkirk precisou se abrigar no interior da ilha. Lá ele encontrou animais que foram introduzidos pelos espanhóis quando tentavam colonizar a ilha, este novo território fez sua vida na ilha subir de nível. Até pôde construir cabanas usando pimenteira-preta que ele encontrou na região.
Entre as coisas geniais que Selkirk fez na ilha estão: domesticar gatos selvagens para se proteger de ataques dos ratos que vieram para a ilha com os espanhóis, trajes com peles de cabras quando suas roupas estragaram (seu pai era sapateiro e lhe ensinou a curtir o couro), e usar metal dos anéis de barris abandonados para fazer uma nova faca.
A ilha, como já foi dito, era visitada por algumas embarcações. Mas Selkirk não podia ser salvo por qualquer navio. Durante a sua estadia na ilha, dois navios desembarcaram ali, mas eram navios espanhóis. E Selkirk, sendo um corsário escocês em plena Guerra da Sucessão (1701-1714), não se arriscaria virar prisioneiro do inimigo.
Somente em fevereiro de 1709, Selkirk foi resgatado por um navio inglês chamado Duke, no comando de quem? quem? quem?... ninguém menos que William Dampier. Esse final em um livro ficcional certamente irritaria os leitores que acham coincidências demais algo inverossímil em uma história. A propósito... lembram de Cinque Ports? Realmente naufragou na mesma expedição em que Selkirk fora abandonado, matando quase toda a tripulação.
Os familiares e amigos de Selkirk, quando foram recebê-lo ficaram admirados com a mudança na personalidade dele, mais disciplinado, vigoroso e com uma grande paz de espírito; esta última foi a qualidade que mais surpreendeu a todos.
Os familiares e amigos de Selkirk, quando foram recebê-lo ficaram admirados com a mudança na personalidade dele, mais disciplinado, vigoroso e com uma grande paz de espírito; esta última foi a qualidade que mais surpreendeu a todos.
Johann Conrad Dippel, o verdadeiro Dr. Frankenstein.
Johann Conrad Dippel nasceu em um castelo na Alemanha, em 1673. Ele era um desses cientistas, meio gênio, meio bruxo, que tinha ideias excêntricas e era acusado de ter pacto com o Diabo.
Se o propósito dele era seguir a carreira de cientista louco, Dippel tinha um currículo impecável para tal ambição: estudou filosofia, teologia e alquimia na Universidade de Giessen, obtendo ali um mestrado em teologia.
Ele clamava ter descoberto o elixir da vida longa, um óleo animal que ele produzia em suas dissecações de animais mortos. Dippel não era bem visto pela sociedade e ficava exilado no castelo em que vivia, praticando experimentos secretos. Podemos ter uma idéia dos experimentos dele pelas dissertações que ele publicava. Em "Remédios da Vida da Carne," Dippel explicava sobre seu elixir de vida longa e também porções, feitos de ossos e carne cozidos de animais, que ele afirmava ter o poder de expulsar demônios. Neste mesmo ensaio, Dippel fez sua polêmica dissertação (como se os outros tópicos do livro não fossem polêmicos) sobre a possibilidade de transferir a alma, o folêgo de vida, em cadáveres, usando um funil.
Entre outras bizarrices que Dippel estudava envolvia a criação de um homúnculus - uma espécie de minion, como os minions da cultura pop, um ser que poderia ser servil em alguns trabalhos. Para tanto, Dippel tentava fertilizar ovos de galinha com sêmen e sangue de menstruação humanos.
Mas nem tudo que Dippel fazia era de natureza fantástica, o pintor Heinrich Diesbach tentava fazer um pigmento vermelho quando notou que o pigmento ficava azul por conta de uma reação química com carbonato de potássio. Ele cedeu uma amostra do acidente para Dippel que aperfeiçoou o experimento criando um lindo e profundo pigmento azul que hoje é conhecido como azul-prussiano. Diesbach e Dippel fundaram uma fábrica desse pigmento em Paris, fazendo segredo da fórmula. Pelo visto, esse negócio foi o que viabilizou a carreira científica de Dippel.
Pelo menos uma vez há registro de que Dippel foi acusado de roubar corpos em cemitérios.
Johann Dippel afirmava que seu elixir da vida longa o faria viver, pelo menos, até os 135 anos. Mas, para a sua infelicidade, ele morreu de derrame aos 60 anos, em 1734.
E qual era o nome do castelo em Dippel nasceu? Castelo de Frankenstein. Dispensando explicações.. próximo...
O Castelo Frankenstein Mühltal, onde o cientista Johann Conrad Dippel viveu. |
Alfredo Balli Trevino, o verdadeiro Hannibal Lacter
Mais um personagem que você reconhecerá na pele de Anthony Hopkins, no filme O Silêncio do Inocentes. Porém, originalmente, a história é um livro da autoria do escritor Thomas Harris, The Silence of the Lambs (O Silêncio dos Cordeiros (ou Pessoas Simples) ou, O Silêncio do Inocentes como ficou traduzido aqui no Brasil).
O escritor conta que , durante a sua carreira de jornalista, ele foi enviado ao México, para fazer uma reportagem sobre um condenado à pena de morte chamado Dykes Askew Simmons, que assassinou três pessoas.
Em suas pesquisas ele descobriu que Simmons já levou um um tiro, uma vez, por ter tentado escapar. O repórter foi então apresentado ao médico que tratou do ferimento. Que Harris chamou de Dr. Salazar, para preservar a identidade do médico. Durante uma entrevista com este médico, Thomas Harris o descreveu como um homem pequeno e ágil, quieto e dotado de uma certa elegância.
O repórter tentou entrevistar o médico mas logo perdeu o controle da conversa e o médico começou a fazer perguntas ao repórter, ao invés do contrário. "O que você sentiu quando viu Simmons? Notou a seu rosto desfigurado? Já viu uma foto das vítimas deles?" Isto deixou Thomas Harris desconcertado, e é recorrente na personalidade ficcional de Hannibal Lecter.
Quando a entrevista acabou, Harris perguntou ao guarda quem era aquele médico. A resposta do guarda pegou o escritor de surpresa: "Cara! O médico é um assassino! Como um cirurgião, ele pôde embalar a sua vítima numa caixa surpreendentemente pequena. Ele nunca vai deixar este lugar. Ele é louco."
Anos após o escritor revelar essa história, o escritor Diego Enrique Osorno identificou Dr Salazar como sendo Alfredo Balli Trevino; um cirurgião que brigou com sua namorada, bateu nela até ela ficar inconsciente, então cortou a garganta dela com um bisturi, picou-a em pedaços e depois a enterrou dentro de uma caixa. Foi pego e condenado a prisão perpétua, e durante sua sentença prestou serviço como médico dos prisioneiros. Depois sua pena foi reduzida para 20 anos e o médico passou o resto da vida ajudando os pobres.
A última frase do assassino, em uma entrevista em 2008 foi esta: "Eu não quero reviver meu passado sombrio. Eu não quero acordar meus fantasmas, é muito difícil. O passado é pesado e a verdade é que essa angústia que tenho é insuportável."
Vlad III, O Drácula da vida real.
Está aí o cara que inspirou o vampirão de Bram Stoker. Mas o Drácula ficcional é uma mocinha de vestidinho rosa em comparação com a personalidade histórica que inspirou o personagem.
Vlad III era conhecido por matar cruelmente seus inimigos, e quando eu digo inimigos, me refiro também aos parentes dos inimigos - homens, mulheres... e crianças. Também era chamado de Vlad, o Empalador. Isso porque este era o método favorito dele matar seus inimigos. A pratica do empalamento consiste em enfiar uma estaca pontuda no ânus da vítima ainda viva e depois firmar a outra ponta da estaca no chão e esperar que a gravidade mate a vítima lentamente. Eu não vou me delongar descrevendo as perversidades insanas que fez esse Rei da Valáquia (este é o nome do reino dele); mas se eu fizesse isso aqui, daria muita, mas muita coisa.
Não se sabe como ele morreu, há fontes que dizem que seu próprio povo valáquio, cansado de suas perversidades, o matou; outros dizem que os turcos o mataram em uma batalha, expondo sua cabeça em praça pública e outras fontes dizem que um soldado o matou acidentalmente em comemoração a uma vitória em campo de batalha.
Vlad III era filho de Vlad Dracul, que é uma forte evidência que Stoker teria se inspirado nele para criar o Conde Drácula. Este nome, Dracul, é uma referência à linhagem Drăculeşti, da qual Vlad II é o fundador. Este nome é uma referência à Ordem do Dragão, a que Vlad II aderiu em seu tempo. Dracul é derivado do latim Draco, ou "Dragão." Drácula, ou Draculea, significa, portanto, "Filho de Dracul."
Forest Frederick Edward Yeo-Thomas, o verdadeiro James Bond.
Outro personagem de cinema, mas que foi trazido da literatura. Ian Fleming, o escritor que criou este personagem se inspirou, na realidade, em muitas pessoas que ele admirava, sobretudo no meio militar. O nome James Bond foi emprestado de um ornitólogo, o sr James Bond, que concordou no uso de seu nome.
Mas eu escolhi aqui a pessoa histórica que Fleming admitiu servir de inspiração e que, principalmente na personalidade, é muito compatível com o agente 007.
Forest Frederick Edward Yeo-Thomas foi um agente britânico de operações especiais que tinha também um codinome: "Seahorse" (cavalo-marinho). Mas a Gestapo, seus inimigos, o chamavam de "O Coelho Branco."
Também era um agente tático, que ajudava a criar estratégias para, por exemplo, impedir a invasão nazista da França. Mas também tinha missões de infiltração em campo inimigo, que quase sempre envolvia o salto de paraquedas, habilidade recorrente do personagem James Bond.
Em uma dessas missões na França, ele foi traído, capturado e submetido pelos nazistas a torturas cruéis como submersão em água gelada até o afogamento (depois era trazido de volta) e choques nas genitálias; torturas também típicas dos filmes do 007.
Enquanto prisioneiro dos nazistas, ele realizava frequentes escapadas da prisão e era recapturado. Na iminência de uma dessas recapturas, ele se passou por um cidadão francês e foi levado para um campo de prisioneiros de guerra chamado Stalag XX-B, de onde era fácil fugir.
As aventuras desse agente, não vou narrar todas aqui, são sempre bem parecidas com as aventuras do 007, e o modus operandi do espião também é bem compatível.
Mas foi quando eu descobri, em minha pesquisa, que Yeo-Thomas se envolvia com diferentes mulheres em meio às suas missões, que eu reconheci sem nehuma dúvida que este era a verdadeira inspiração para o espião mulherengo dos cinemas.
E aí, o que achou das pessoas reais que inspiraram personagens, qual deles é mais doido ainda que os personagens que inspiraram? Comente para nós, ok, Se você lembrar de mais alguma pessoa real que inspirou um personagem eu vou ficar feliz se você expandir o artigo comentando sobre ele.
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