Malta - A Ilha da Salvação




   No mar mediterrâneo, coração da Grécia Antiga, pontilhado de ilhas famosas como Creta, Rodes, Cefalônia... viajava um atribulado navio carregando prisioneiros. Seu destino era a Itália mas os ventos se manifestaram contrários á viagem. O navio parou temporariamente em uma vila portuária chamada Kaloi Limenes, em uma região remota da ilha de Creta.
   A situação era preocupante e o inverno estava chegando. Um dos prisioneiros, corajosamente questiona os navegadores: "Homens, vejo que esta viagem vai resultar em grandes perdas, não só da carga e do navio, mas de nossas almas.” Mas com medo do inverno o capitão não deu ouvidos ao prisioneiro e  navio zarpou mesmo com o clima imprevisível.
   Em alto-mar, diante da percepção de uma mudança nos ventos, ouviu-se um tripulante gritar: "euraquilón", era como os romanos chamavam um temido vendaval que costuma soprar sobre o mediterrâneo; algo que chamaríamos hoje de "bomba climática". A força do vento obrigou os assustados marinheiros a deixarem-se levar pelo incontrolável vendaval.
   Em situações desesperadoras como essas, os antigos navegadores costumavam jogar carga no mar; com o navio mais leve o vendaval os sacudia menos.
  "Por muitos dias, o sol e as estrelas não apareceram, e uma violenta tempestade se abatia sobre nós. Então, por fim começou a desaparecer toda a esperança de sermos salvos." - relata outro prisioneiro, que registrou a história.
   Os tripulantes mal estavam se alimentando e aquele prisioneiro ousado expressou-se novamente: “Homens, vocês deviam ter aceitado o meu conselho e não ter partido de Creta. Ainda assim, tenham coragem, pois nenhum de vocês morrerá, apenas o navio se perderá. Foi o que um anjo me disse ontem à noite em uma visão. No entanto, iremos naufragar em uma ilha."
   Até mesmo o trigo que o navio levava fora jogado para diminuir o peso.
   "Quando o dia amanheceu, não reconheceram aquela terra, mas viram uma baía com uma praia e decidiram que, se possível, encalhariam o navio ali." - continua a nos relatar o prisioneiro escritor.
   Por fim o navio, em alta velocidade, bateu em um banco de areia, próximo à praia. "A proa se prendeu e ficou imóvel, mas a popa começou a ser despedaçada pelas ondas."
   Com o navio encalhado os soldados desembainharam suas espadas para matar os prisioneiros, que poderiam escapar nadando. Mas um dos oficiais, impressionado com as visões daquele prisioneiro falador, impediu os soldados. Todos nadaram então para esta ilha desconhecida.
   "Os nativos da ilha nos mostraram extraordinária solidariedade. Acenderam uma fogueira e receberam bem a todos nós, pois estava chovendo e fazia frio." Aquele prisioneiro visionário estava acendendo uma fogueira quando uma víbora saiu da lenha e se enrolou na mão dele. Os nativos viram isso e pensaram: "O destino não permitirá que esse assassino sobrevivente deveras viva, a justiça divina enviou a víbora para matá-lo." Mas o prisioneiro simplesmente sacudiu a mão e a víbora caiu sem lhe fazer nenhum mal. 
   Os nativos ficaram observando, esperando que o homem inchasse e caísse morto em questão de minutos, mas quando nada disso aconteceu eles começaram a acreditar que ele não era um assassino, mas um santo. Por isso, os nativos hospedaram os náufragos em sua vila até que um navio pudesse resgatá-los.


   O conto acima pessoal, é uma releitura de uma história bíblica. O Prisioneiro que registrou a história é São Lucas e o prisioneiro ousado que previu a salvação da tripulação é ninguém menos do que São Paulo. É baseado nos capítulos 27 e 28 do livro bíblico de Atos, onde Lucas registrou, basicamente, o que se passou nessa história.
   Mas e a ilha da salvação? Essa ilha se chama Malta e os malteses, que Lucas descreveu como sendo de "extraordinária solidariedade" ainda são conhecidos por sua hospitalidade até os dias de hoje.




   Em épocas pré-historicas, quando o nível da água era mais baixo, crê-se que Malta era um ponte natural que ligava a Itália à África.
    Hoje em dia ela continua sendo uma espécie de "ponte" para relações amistosas entre a África e a Itália.
    Esse movimento marítimo todo é o que a nação maltesa precisa para viver, já que até mesmo a água potável é limitada na ilha e precisa ser exportada. Sua pouca extensão de terra seca também faz com que Malta tenha que exportar cerca de 80% da comida que consome. Mesmo energia é comum ser um produto comprado por Malta. Atualmente, Malta pôde desenvolver-se tecnologicamente e comercialmente aproveitando sua posição estratégica que aproxima a ilha de vários países que integram pelo menos dois continentes.
   Mas o melhor de Malta, e também uma importante atividade econômica, é acolher com extraordinária hospitalidade os inúmeros turistas que desembarcam em Malta em todas as épocas do ano, honrando a tradição de seus ancestrais, que acolheram São Paulo e aqueles náufragos, nos tempos remotos, hoje os malteses acolhem "náufragos" do mundo todo.



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