Romantismo, Realismo e Naturalismo

   É uma confusão muito comum pensarmos que um livro de romance, obrigatoriamente, será uma história de amor. E que Romance Policial deve ser alguma história em que um detetive se apaixona pela sua secretária, ou algo assim. 
   Isso acontece porque a escola falha em nos dar uma noção do que são os movimentos literários. Esta noção até existe dentro do conteúdo programático escolar; mas aulas de literatura tendem a ser tão chatas, com o professor empurrando livros maduros para os alunos, obrigando-os a ler livros ruins, que não aprendemos nada. Lemos os livros que nos mandam, sem o menor gosto, e quando tiramos uma nota meia-boca em literatura, damos a missão por cumprida e esquecemos a matéria.
    Somente quem se aprofunda mais em literatura, não raramente estudando sozinho, que começa a aprender realmente o que é a literatura; principalmente os textos que os professores consideraram "subversivos" e esconderam de nós.
    Que surpresa quando descobrimos que Machado de Assis é conhecido mundo afora também por escrever contos de terror! Ou quando descobrimos que os livros de ficção científica de Júlio Verne e H. G. Wells são romances!
    Bom é para ajudar você, caro leitor, nessa descoberta dos prazeres da literatura, que eu escrevo artigos como esse. E também para você que gosta de escrever e quer conhecer seu próprio estilo, se descobrir como escritor ou escritora.
      Para os objetivos acima é importante sabermos diferenciar esses três movimentos literários: romantismo, realismo e naturalismo.

O Romantismo

Miranda The Tempest. Pintura romântica de John William Waterhouse (1916)


    A palavra romance tem vários significados, até mesmo dentro da literatura, propiciando muita confusão em leitores iniciantes. Um romance, no cinema, é uma história de amor. Já na literatura, um romance pode ser qualquer obra fictícia de tamanho considerável, em prosa, entrelaçando várias tramas dentro de uma narrativa (como já foi considerado aqui), mas também pode se referir a uma história do movimento literário "romantismo." Nesse artigo, eu explicarei sobre o romance como movimento literário.
    O romantismo retrata um mundo idealizado pela imaginação do escritor. O escritor não se importa em nos mostrar a realidade; ele cria personagens femininas puras, angélicas... personagens masculinos varonis, corajosos. Claro que as características das personagens de um romance nem sempre serão estas, mas serão aspectos mais imaginativos.
    Júlio Verne cria o capitão Nemo, que quer viver recluso da sociedade e que inventa maravilhas tecnológicas e vive em um submarino. Conan Doyle cria um detetive excêntrico obcecado pela lógica, que é extremamente inteligente mas não sabe nem que a Terra gira em torno do sol (porque é um conhecimento inútil para o trabalho dele). Seria difícil pensar que existam pessoas assim na vida real. Sim, esses escritores são romancistas. Perceba que não tem nada a ver, necessariamente, com amor.
     Em mundos românticos tudo pode acontecer. As fantasias, de dragões e elfos... são romances. Histórias de amor são romances também, quando o mundo do livro e suas personagens são idealizadas, um amor idealizado, expresso de forma subjetiva pelo autor.

O Realismo

The Gleaners (As Respigadoras) Pintura realista de Jean-François Millet (1857)

    Agora entramos em mundo que é mais "pé no chão". O escritor agora quer nos mostrar como o mundo realmente é, ainda que a história seja fictícia. Frequentemente, ele baseia seu mundo fictício em estudos sociais e referências históricas. Suas personagens são baseadas em estudos de psicologia. Não há espaço para idealizações. Há imaginação sim, mas é uma imaginação guiada por princípios científicos (ou tenta-se).
   Os mundos realistas não raros são cruéis, cheios de pessoas egoístas e covardes; ou então é um mundo antipático. Escritores podem querer retratar conceitos da realidade como a escravidão, a opressão, etc. Não é difícil pensar que o mundo seja assim, em uma perspectiva pessimista (científica), ora... é o mundo em que vivemos!
     As mulheres do realismo não são mais aquelas figuras angélicas; são mulheres mais complexas, algumas irresponsáveis, outras levam uma vida imoral... como os homens. Há, claro, personagens responsáveis também, como na vida real. O realismo é como se fosse uma reação crítica ao romantismo; é uma tentativa dos escritores de fugir dos clichês idealizados do romantismo.
     Há espaço, por que não, para a fantasia. Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é considerado o precursor do realismo no Brasil, mas seu protagonista narra sua história depois de morto. Porém, a obra retrata com realismo as condições da época.
   
O Naturalismo

Les Foins ( O Feno). Pintura naturalista de Jules Bastien-Lepage (1877)


   Levando o realismo ao extremo, muitos escritores, inclusive muitos escritores brasileiros, passaram a usar a imaginação para explorar situações sociais que não são cotidianas no mundo real. 
   Ao usar os estudos psicológicos e sociais, estes escritores buscavam criar situações humanas extremas. Ao meu ver (mera opinião deste escritor), isso deixa de ser realismo. Não é mais o retrato de um mundo real. Estamos agora na outra ponta do espectro literário. o extremo oposto do romantismo idealizado.
    O mundo naturalista não é um mundo idealizado, nem realista, é um mundo teórico, concernente às ciências humanas. Não podemos dizer que seja um retrato fiel da realidade e nem que seja puramente idealizado.
    A literatura naturalista explora o sexo desenfreado, parafilias, doenças, o fisiológico, o instintivo, a loucura. Também tendem a destacar o fator hereditário na formação do indivíduo, e também o fator ambiental na formação do indivíduo. "Genótipo" e "fenótipo" na formação psicológica das personagens. Esses escritores teóricos, como Aluísio de Azevedo, buscavam aumentar os traços animais em seus personagens humanos, pois é assim que eles viam o ser humano, com uma natureza animal.
   
    Bom pessoal, neste artigo eu busquei dar uma explicação bem orgânica sobre esses movimentos literários. Literatura não é uma ciência exata; algum especialista no assunto pode ter um pensamento diferente. Se o seu pensamento é diferente ou igual, o que desejar acrescentar ou comentar, sinta-se livre nos comentários.


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