História Reais tão estranhas que parecem ficção.



   Foi justamente um escritor que disse: "A Verdade é mais estranha do que a Ficção" (Mark Twain). Eu acredito que certos eventos reais conseguem essa proeza de serem mais estranhos que a ficção, porque o escritor sempre se preocupa em ser verossímil, ele quer que a sua história, por mais absurda que seja, seja crível; e até mesmo a imaginação tem limite. Já esse mundo em que vivemos, um complexo gigantesco de causas e consequências, acontece espontaneamente, sem ser orquestrado por uma mente imaginativa, acontece sem limites, sem  a preocupação de ser verossímil, simplesmente acontece o que tem que acontecer. Como resultado, muitos eventos históricos nos causam tanta ou mais estranheza do que histórias de ficção. Dentre esses muitos eventos bizarros eu separei cinco que eu acho que, se fossem um livro, prenderia a atenção do leitor intrigado do começo ao fim.

Kaspar Hauser. Em uma bucólica praça alemã em Nuremberg, do século XIX, um rapaz mudo perambula segurando um pequeno livro e um bilhete. Quando o jovem chama a atenção dos transeuntes, descobre-se que o bilhete era endereçado a um dos capitães da cidade, o capitão Von Wessenig, e o livro continha orações. 
   No bilhete o capitão descobriu alguns detalhes obscuros da história do rapaz: ele teria passado a vida inteira preso, possivelmente desde que nasceu. O escritor do bilhete explicou que recebeu a custódia de Kaspar Hauser quando bebê, tentou dar-lhe alguma instrução, mas afirmou que ele nunca "deu um passo para fora." A carta termina de forma estranha convidando o capitão a  leva-lo com ele ou enforca-lo. Junto com o menino foram encontrados pertences relativos à nobreza.
   Quando foi levado para o capitão, Kaspar afirmava, com uma estranha fala artificial: "Quero ser cavalheiro como meu pai era... Cavalo! Cavalo!". Outras perguntas foram feitas e o rapaz simplesmente chorava de forma obstinada "Não sei. Não sei."
   Com um vocabulário muito limitado não se pode descobrir muito sobre o jovem. Ele foi preso como um vagabundo durante dois meses. Recusava todo o tipo de comida que não fosse pão e água. Também parecia apreciar a visita dos curiosos. 
   Quando foi solto passou a viver com alguns tutores que descobriram em Kaspar um genial talento musical. Kaspar também gostava de escrever contos de aventura. Mas ele tinha um entendimento muito deficiente em matemática e percepção espacial. "Como podem as casas serem maiores por dentro do que por fora?" Ele perguntava.
   Kaspar Hauser sofreu dois atentados contra a sua vida por parte de um misterioso assassino contratado. O último desses atentados levou a vida do rapaz aos 21 anos. No primeiro atentado, Kasar Hauser afirmou que o assassino encapuzado proferiu a seguinte frase: "Você ainda tem que morrer antes de sair da cidade de Nuremberg."
   Diversas teorias tentam explicar essa história bizarra, entre Hauser ter inventado tudo isso e encenado seu próprio assassinato, portanto, teria cometido suicídio, até Hauser ser, na realidade, o príncipe de Bader, que se pensava ter morrido quando bebê.
   Este príncipe morreu com um mês de idade. Mas muitos acreditam ser Kaspar Hauser que foi trocado por um bebê morto. Neste caso Hauser seria filho de Charles, grão-duque de Baden e Stéphanie de Beauharnais. Sem descendentes masculinos conhecidos, o sucessor de Charles foi o seu tio Louis, que mais tarde foi sucedido por seu meio-irmão, Leopold. A mãe de Leopold, a condessa de Hochberg, seria a suposta culpada do cativeiro de Kaspar Hauser.
    Quem quiser saber mais pode assistir ao filme alemão Jeder für Sich und Gott Gegen Alle ("Cada Homem por si e Deus contra todos") que conta essa história de forma crua e sem insinuar qualquer uma das teorias; ou também pode ler um dos 400 livros que foram escritos tentando explicar esta história.

Emilie Sagee. A escola para meninas von Neuwelcke, no ano de 1845, estava cheia de meninas apavoradas. O que teria assustado as meninas seria algo bizarro que estava acontecendo com sua professora, Emilie Sagee. 

   Segundo relatos documentados dessas meninas, elas afirmam que viam uma duplicata dessa professora imitando seus movimentos.
  Em uma manhã de aula, Emilie estava escrevendo no quadro negro para 13 alunas que relataram ter visto uma duplicada dela aparecer e imitar exatamente seus movimentos, mas não estava segurando nenhum giz nas mãos. No almoço as meninas viram novamente a duplicata aparecer por de trás da professora e começou a imitá-la, novamente, sem talheres nas mãos.
  No ano seguinte, um professor estava ensinando bordado para várias classes de alunas, no Hall da escola; e a professora Emilie Sagee podia ser vista pela janela, colhendo flores no jardim. Quando o professor precisou se ausentar para falar com a diretora, quem toma seu lugar? A professora Emilie Sagee! A mesma que ainda podia ser vista no jardim! As 42 meninas entraram em pânico. Duas garotas, mais corajosas, se aproximaram da duplicata, tentaram falar com ela mas a falsa professora as ignorava.
  A professora relatava que não conseguia ver nenhuma duplicata mas afirma que se sentia cansada durante os momentos das alegadas aparições.
  Casos semelhantes de aparições de duplicatas imitando os movimentos da vítima são conhecidos como doppelgängers, palavra de origem alemã que tem um significado próximo a "replica andarilha." Segundo essa antiga lenda germânica, essa réplica imita os movimentos da vítima enquanto suga suas energias.
   Casos de histeria, ou mesmo delírios, compartilhados são muito comuns entre alunos em escolas. Em tempos recentes tivemos a loira do banheiro... pelo menos é assim que especialistas, querendo ser sóbrios, explicariam este estranho relato da professora Sagee.  
    Mas eu vou sincero com vocês, não duvido de mais nada nesse mundo bizarro em que vivemos. Uma bi-locação inconsciente, alguma distorção entre universos paralelos, algum espírito vampírico metamorfo... esta história real poderia ser um gancho para as mais escabrosas histórias de ficção, né não?

Os assassinatos de Hinterkaifeck. O fazendeiro Andreas Gruber compra uma velha fazenda no interior da Bavária, e se muda com toda a sua família. Eles descobrem pegadas na neve em direção às dependências da fazenda, escutam passos no porão, também alguns murmúrios. Objetos somem da casa. Com a demissão da empregada, que afirmou sentir a casa mal assombrada, eles contratam uma nova empregada. Somente algumas horas depois da nova empregada chegar, todos são assassinados, no estábulo da fazenda, com ferimentos de picareta. 
   Os moradores da fazenda vizinha, notando a ausência da filha do casal nas aulas, foram visitar a fazenda somente 4 dias depois e encontraram a carnificina.
   Parece um enredo filme de terror, com direitos a todos os clichês. Mas foi um caso real que aconteceu na fazenda bávara de Hinterkaifeck, em 21 de abril de 1922.
   O Inspetor Georg Reingruber se esforçou muito para desvendar o caso, chegou a ter mais de 100 suspeitos, mas não conseguiu. Segundo a perícia, na noite do massacre, as vítimas foram atraídas para o celeiro, uma a uma, e mortas ali, começando por Andreas Gruber e sua esposa e terminando com a empregada recém chegada e os três filhos do casal.
   O inspetor suspeitou de latrocínio, mas uma grande quantidade de dinheiro foi encontrado na casa. Havia comida na mesa. Os vizinhos notaram também que as cocheiras dos animais estavam cheias. Fumaça foi vista saindo das chaminés nos dias anteriores. Antes de resolver fugir, o assassino continuou por algum tempo na bucólica rotina da vida na fazenda, deixando suas vítimas mortas no celeiro.
   Pelo visto alguém já morava naquela velha fazenda abandonada, clandestinamente, e resolveu tomá-la para si, pagando com o sangue dos verdadeiros moradores.
   Uma das vítimas e filha mais velha do casal, Viktoria Gabriel, era viúva de guerra. Seu marido teria sido morto nas trincheiras na Primeira Guerra. Visto que seu corpo nunca foi achado, a polícia acredita que o soldado pode ter desertado, ou mesmo sobrevivido de alguma forma. Quando descobriu que a sua esposa estava em uma nova fazenda, pode ter tido um ataque de ciúmes delirante e causado o massacre. Mas essa é só uma das teorias que tentam explicar o crime.
   Em 2007, os alunos do Polizeifachhochschule (Academia de Polícia), em Fürstenfeldbruck foram comissionado a investigar o caso, desta vez com modernas técnicas de investigação criminal e tecnologia de ponta. Mas o relatório final da equipe nunca foi revelado.

 A Fuga Espetacular. O sequestro de um Boeing 727 termina em uma fuga espetacular quando o sequestrador pula de paraquedas com o dinheiro do resgate. Parece sinopse de filme ruim, mas realmente aconteceu e nunca pegaram o agora rico sequestrador.
   Um tal de Dan Cooper, nome inexistente, compra uma passagem. Em 24 de novembro de 1971, no Aeroporto Internacional de Portland, Oregon. Uma passagem só de ida, de Seattle a Washington, somente trinta minutos de viagem. Tempo o bastante para o sequestrador, sob esse pseudônimo, pedir 200 000 dólares de resgate, quantia que consegue ali mesmo, e simplesmente acionar a porta de emergência e pular do avião portando um paraquedas. Ele trajava terno escuro, mocassins e um chique prendedor de gravata de pérola, enfeitando uma gravata preta; como se fosse mesmo algum agente secreto.
   A polícia iniciou uma grande perseguição infrutífera e  o FBI investiga ainda hoje o caso. O único achado foi um pequeno esconderijo onde ainda haviam algumas notas.
   O cartaz espalhado pelo FBI nas redondezas, com o retrato falado, pode ser visto acima.

A Sombra e a Escuridão. Uma vez que o filme é bem famoso, com direto a Val Kilmer e Michel Douglas, eu resumirei rápido a história. Uma ponte precisava ser construída em Tsavo. Foi mandado Jhon Patterson para lá para administrar a obra. Caçar era o hobbie dele. Acontece que leões machos muito estranhos estavam devorando os trabalhadores. E se comportavam de forma incomum, atacando de dia, ou de noite. E sempre carne humana. Depois dos leões terem tocado o terror geral em Tsavo, Patterson consegue matar os leões e construir a ponte. No final do filme é revelado que a história se basea de perto a uma história real e que os personagens são históricos. Sim, aquilo realmente aconteceu, é história. Não me delongarei mais e sugiro que assistam ao filme.
   Na verdade, grandes felinos comedores de gente são muito mais comuns do que se pensa. Eu teria que escrever todo um livro, centenas de páginas, para contar todas as histórias que há de felinos monstruosos; alguns chegando a matar sozinhos mais de trezentas pessoas. O que parece é que quando eles experimentam a carne humana não querem mais saber de outra coisa. Será que somos assim tão gostosos?
   Um detalhe interessante que o filme não conta é que esses leões de Tsavo não tinham a aparência de leões comuns. Era leões maiores e desprovidos de juba. Acredito que, em nome da boa cinematografia, usaram leões cabeludos, viçosos e bonitos, para fazer o filme, e preferiram deixar a feiura dos verdadeiros leões de lado. Mas a foto desses leões está postada aqui, eles foram empalhados e ficaram exibidos no museu de Chicago, em Illinois, por muito tempo. Me parece que retiraram os leões, mas eles certamente estão guardados juntos àqueles segredinhos que nós sabemos que os museus guardam em seus porões...

                  Fotografia dos leões de Tsavo, no Museu de Chicago, em Illinois. Tirada por Lisa Anders.


   E então, qual a sua teoria para essas histórias bizarras, que mais parecem ficção científica. Sobre os leões eu arrisco dizer que eram leões com excesso de hormônios, devido a algum distúrbio, o que explicaria a ausência de juba. Mas eu quero saber a opinião de vocês. Se tiverem mais uma história real escabrosa para contar, arrepia pra nós nos comentários, ok?

 



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