De onde veio o Cyberpunk, Steampunk, Dieselpunk e outros punks?



   Provavelmente você conhece esse termo de algum videogame. E talvez ouça que certo filme é do gênero Steampunk, com o Wild Wild West, de 1999; ou Dieselpunk, como no filme Mad Max. Mas, como acontece com grande parte da indústria de cinema ou de games, esses gêneros se originaram da literatura.

 

Motor do Náutilus, submarino criado por Julio Verne (Ilustração Original)

   Ficção científica é um gênero de literatura muito antigo. E, em seus primórdios, escritores como H. G. Wells e Jules Verne tentavam imaginar como o futuro seria, que novas tecnologias haveriam, mas tudo dentro do conhecimento que tinham na época. E logo, os trens à vapor inspiraram veículos aéreos movidos a vapor e fortalezas inteiras que podiam se locomover à vapor. Ou se a época era ainda anterior, os escritores imaginaram tecnologias incríveis que funcionavam com intrincadas catracas e engrenagens, tecnologia surgida na época renascentista. 

   Esses escritores podem ter errado em suas previsões, já que houveram novas revoluções tecnológicas, conceitos como o microship, os combustíveis fósseis, etc. Mas eles também criaram estilos únicos de construção literária que passaram a ser explorados por escritores posteriores, mesmo hoje em dia. Surgiu o retrofuturismo: cenários literários de alta tecnologia mas usando revoluções tecnológicas de eras específicas da humanidade.

   Tudo bem, mas porque o termo punk? Esse termo tem o sentido de "fuga da norma". E se a humanidade rejeitasse o conceito de petróleo e continuasse se desenvolvendo somente com energia à vapor e hidráulica? Entenderam? É punk porque é uma reimaginação do mundo fora do normativo.

   Agora imaginem quantos mundos podem ser criados escolhendo avanços específicos da tecnologia humana? É o que vamos analisar agora: todos os subgêneros punk da ficção científica...

 


 

Steampunk. Já bem explicado na introdução deste artigo. Trata-se de um mundo imaginário onde a humanidade se concentrou em desenvolver ao máximo a tecnologia do vapor. Normalmente, os trejeitos dos personagens, sua vestimenta, o sistema socio-político, etc, são inspirados na época vitoriana. Para citar um exemplo na literatura, eu não consigo pensar em nada mais steampunk do que o conto "O Encouraçado Terrestre" de H G Wells.

Cyberpunk. Um mundo inspirado nas revoluções da cibernética, dos computadores e da internet. Trazendo muito da ambientação e do estilo de vida dos anos 80 e 90, não raro levando este cenário ao extremo para criar uma distopia de bares, boates, mendigos, ruas sujas, e letras neon nos estabelecimentos gerando grande poluição visual. (Veja a primeira imagem deste artigo!). Alguns dos personagens cyberpunk podem ser pessoas com implantes cibernéticos, andróides, etc. Sinto-me obrigado a citar o filme Blade Runner como exemplo de cyberpunk, tal foi a sua proficiência na construção de um mundo nesse estilo.

Sailpunk. Agora temos um mundo onde a humanidade, por algum motivo, focou sua moradia no mar ou nas costas oceânicas e ilhas, desenvolvendo ao máximo a tecnologia de navegação: bússolas, piratas, mapas, e navios a vela; até mesmo veículos voadores, quando inventados, são movido à força do vento! Então o filme Piratas do Caribe é Sailpunk? Não exatamente, lembre-se que, para ser punk precisa haver uma construção de mundo retrofuturista. Pensando em um exemplo dentro da indústria cinematográfica, o filme "Waterworld", com o ator Kevin Costner, é sailpunk.

 


 

Greenpunk. O que dizer de uma humanidade que escolheu apenas tecnologias sustentáveis e manteve o equilíbrio ecológico do planeta? Nesse estilo literário vemos elementos como redomas abrigando florestas inteiras, energia solar (por este motivo é algumas vezes chamado de Solarpunk), trens magnéticos, pontes decoradas com vinhas e prédios vítreos para pessoas que são amantes dos raios de sol e querem deixá-los entrar em suas habitações... aqui temos uma utopia ao invés de uma distopia. É um gênero raro de encontrar exemplos, mas eu posso pensar aqui no jogo O Fantasma 2040, da era 16-bits, que conseguiu algo dentro dos requisitos deste estilo. Eu sei que não é um exemplo perfeito, se você souber de algum livro, filme ou jogo greenpunk me ajude aí nos comentários, ok?

 



Biopunk. Um mundo que se desenvolveu buscando soluções dentro da biologia. Plantas transgênicas, animais trangênicos e... humanos trangênicos, não poderiam faltar em um biopunk. Mas também mutantes acidentais, aberrações, vírus mortais e todo o tipo de "biohazard", como os gringos falam. Seus veículos... porque não animais biomecânicos? Neste gênero eu posso citar clássicos romances como "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley e a "Ilha do Doutor Moreau" de Wells.

Dieselpunk. Como seria o mundo se as pessoas só pensassem em carros, carros e mais carros... não é muito diferente da realidade, receio... mas um dieselpunk é uma história, normalmente distópica, onde a humanidade focou na tecnologia automobilística e seus derivados. Uma história assim lida com temas como poluição, falta de água potável, corrupção policial, enfim tudo que possa envolver carros em alta velocidade! Também é comum trazer a ambientação socio-política da segunda guerra mundial, época que houve uma revolução automobilistica. Além de Mad Max, já citado, o livro O Homem do Castelo Alto, Philip K. Dick, também segue o estilo dieselpunk.

Clockpunk. Um mundo inspirado na tecnologia da época da renascença. Com o uso de engrenagens, catracas, parafusos em uma alta tecnologia que chamaríamos de analógica, talvez. Os esboços com as invenções de Leonardo da Vinci dão uma ideia de como seria um mundo clockpunk. Um exemplo notável deste estilo é The Blazing World, de Margaret Cavendish, uma sátira de 1666, onde a escritora descreve um mundo utópico com maquinário baseado em engrenagens.

 

O desenhista Albert Robida, mostrando em 1902 como ele imaginava o ano 2000

Steelpunk. É o futuro como os escritores e cineastas dos anos 70 e 80 imaginavam. Não levando em conta a tecnologia de miniaturização, neste tipo de mundo distópico imaginário, a tecnologia seria algo que chamaríamos de gambiarras, com fios à mostra, rebites enormes, e armas acopladas. Se pensou em Robocop, acertou em cheio, se pensou em Exterminador do Futuro, dois pontos pra você.

Atompunk. Um mundo distópico com tecnologia nuclear altamente desenvolvida, abrindo espaço para explorar temas como a corrida espacial, o comunismo, a bomba atômica, espionagem. Usando, talvez, um estilo que chamaríamos de neo-soviético, na arquitetura, moda e costumes. Eu colocaria, sem duvidar, os livros de James Bond, do escritor Ian Fleming, bem como os filmes mais antigos deste personagem, com exemplo de Atompunk.

 


 

Elfpunk. E como seria se o mundo moderno se deparasse, de repente, com o mundo da fantasia? Elfos, Orcs, magos e criaturas trevosas, sendo descobertas pelo mundo moderno, por meio de portais, ou que sempre viveram escondidos de nós... isto resultaria, com certeza em algum tipo de união entre tecnologia e magia, chamado frequentemente de "taumaturgia" nesse gênero. A exploração da magia sob um escopo pseudocientífico seria um tema interessante de se abordar em uma história elfpunk. A série de livros Harry Potter e o famigerado filme Bright, com Will Smith, podem ser considerados elfpunk.


   Além desses principais exemplos, poderíamos incluir, como menções honrosas, também o Nanopunk, explorando a nanotecnologia; Candlepunk, explorando tecnologia medieval e, como não poderíamos chamar o mundo dos Flintstones de "Stonepunk"? rsrsrsrs acha que exagerei? Ponha sua opinião nos comentários.


2 comentários:

  1. Quanto ao Steelpunk, acredito que o filme Brazil, de 1985, seria um exemplo melhor de Steelpunk. Eu classificaria Robocop como cyberpunk: grandes corporações que dominam o mundo, cibernética, violência urbana. O próprio autor se inspirou na estética de Blade Runner quando trabalhava no filme, que, aliás, é bem diferente do livro original "Do Androids Dream of Electric Sheep?", de Philip K. Dick. Recomendo a leitura e comparação.

    Também, um exemplo de Atompunk pós-apocaliptico é a bem conhecida série de vídeo games Fallout. Toda a alta tecnologia pré-guerra de Fallout revolve em energia nuclear ou no inevitável holocausto, muitos casos em um humor negro bem característico.

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  2. Harry Potter não pode ser considerado elfpunk, é necessário que os elementos fantásticos sejam de conhecimento público e se passar num cenário moderno e urbano. O cenário de Harry Potter só é urbano, a modernidade está reservada a locais dominados por trouxas, não confunda fantasia urbana com elfpunk.

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Fernando Vrech. Imagens de tema por andynwt. Tecnologia do Blogger.