O que a Obscuridade Revela?
“Forças sabotando o tempo… que forças?”
“O cão só me contou o necessário. Ele contou que eu devo impedir um pequeno grupo… uma espécie de seita, de matar Baltazar Fernandes e seus irmãos.”
“O cão só me contou o necessário. Ele contou que eu devo impedir um pequeno grupo… uma espécie de seita, de matar Baltazar Fernandes e seus irmãos.”
“Baltazar Fernandes e seus irmãos foram os que fundaram Sorocaba e outras cidades das redondezas.”
“Exato.”
“Estão querendo sabotar cidades, antes mesmo delas serem fundadas. Porque?”
“O cão...”
“Espere, Daren. Também tenho algo para te revelar, antes que você prossiga.”
Contei a Daren tudo o que sei sobre as entidades.
“Então são seres imateriais que se manifestam em forma de animais objetos, etc.”
“Sim, ou então formas novas; a manifestação depende do efeito que a entidade quer causar; normalmente com a intenção de causar medo psicológico. Ou mesmo, simplesmente pela preferência insana deles. São seres obcecados.”
“E esse cão, é quem?”
“Suspeito que seja Ahura-Mazda; se for, a situação é muito séria, pois Ahura-Mazda é uma das entidades do Manuscrito; mais perigosas, mais poderosas...”
“Você disse que cada uma dessas entidades tem um oposto.”
“Sim. No caso das entidades maiores, sim. Cada um tem um oposto com quem debate, compete e talvez até guerreie.”
“E se é exatamente a entidade oposta de Ahuza-Mazda que eu combati no passado?”
“Isso é plausível. No caso, seria Arimane, a entidade que defende o caos, a anarquia, o desgoverno.”
“Isso explica muita coisa do que passei e esclarece muitas orientações obtusas que recebi do c… Ahura-Mazda.”
“Ele me explicou que eu devia ficar atento a qualquer coisa específica que estivesse fora do comum: um objeto se mover sozinho, um animal parecer mais inteligente do que é. Estou quase certo que ele estava se referindo à manifestação de alguma entidade, embora se esquivasse de me dar informações completas.”
“Pois bem, Daren. O que ou quem estava fora do comum na sua aventura?”
“Amigo Apolo: Contarei essas coisas no seu devido tempo. Essa pode ser última história da minha vida e a única oportunidade de contá-la; acha mesmo que vou ficar dando spoiler?”
“Ok, Daren, continue de onde parou.”
“Eu parei quando eu estava vigiando o presbitério da vila. Eu havia observado três situações fora do comum, embora não fossem tão incomuns: O homem amarrado no pelourinho, a mão machucada do padre e os ataques fatais que estavam acontecendo nas redondezas.
Eu deveria ser muito discreto, se os membros da seita suspeitassem de mim, iriam se esconder, dar um tempo, e eu teria que esperar semanas para notar alguma atividade deles, talvez meses.
Fui até o padre tirar alguma informação dele.
Bati à porta do presbitério. O padre abriu a porta rangente e se mostrou prestativo: ‘Veio em busca de paz espiritual, amigo?’
‘Sim padre. Podemos conversar?’
‘Entre, jovem, irei ouvi-lo.”
‘Nossa! Que ferimento enorme!’
‘Algumas plantas dessa selva podem ser perigosas, meu jovem.’
‘Foi arranha-gato?’ O padre se revelou um tanto incomodado com o assunto do ferimento.
‘F...foi. Mas não é importante, já está sarando. Agora, me conte o seu problema jovem.’
‘Me parece que eu tive algum tipo de branco, amnésia; e eu estou muito confuso sobre os últimos eventos, por exemplo, do homem amarrado ao pelourinho, o que ele fez?’
‘Perdeu a memória? Não se preocupe! No devido tempo você se lembrará de tudo que perdeu, sem que você precise fazer perguntas tão impertinentes sobre coisas que não são da sua conta.’
‘Padre?’
‘Quer saber de uma coisa, filho? Os cipós dessa selva são muito mais afiados por essas redondezas, os animais daqui são muito mais famintos e as pessoas muito mais loucas que de costume. Fuja desse arraial! Isso aqui não vai prosperar! O Diabo acampou aqui para poder infernizar esse lugar em período integral, noite e dia.’
‘Mas padre...’
‘É tudo o que eu posso dizer-te jovem, boa sorte.’
Foi isso o que o padre me respondeu: nada, foi obtuso como Ahura-Mazda.”
“Mas a obscuridade também revela coisas Daren.”
“E o quê esse padre lhe revela doutor?”
“Que ele estava com medo. Ele passou por coisas nessa vila, que eles chamavam de arraial, na época, que ele interpretou com sendo maldição. Aquele ferimento em sua mão o assustou a ponto dele afirmar ‘que os cipós daqui são mais afiados.’ ”
“Sim. Mas naquele momento eu fiquei surpreso com a resposta do padre e não notei que, realmente, ele estava me revelando coisas importantes para a minha missão.”
“Fui, discretamente, até o centro da vila e notei que o homem já não estava lá, tinha sido levado. Os moradores me informaram que o homem foi levado pelos homens do capitão Teodoro.”
“Quando eu perguntei o que o homem teria feito, os moradores se entreolharam e disseram que não metem nos assuntos do capitão. Parece haver um clima de temor entre os moradores desse capitão Teodoro.”
“Mas eu podia ver com alguma clareza o rastro dos cascos dos cavalos e, como o homem foi tirado do pelourinho recentemente, eu poderia descobrir coisas valiosas se seguisse os homens desse temerário capitão.”
“Após algumas horas seguindo os rastros me deparei com um cenário estarrecedor: A estrada banhada de sangue! Cavalos estraçalhados sobre a sombra das belas árvores que os cobriam, corpos humanos carcomidos contaminando o aroma da relva que formava a estrada e litros de sangue mudando a tonalidade calmante do riacho que acompanhava a estrada. Sim, Apolo, em meio àquela linda floresta! Como se alguém estragasse um belo quadro.
“E o mais estarrecedor: Nenhum dos corpos pertencia ao homem do pelourinho.”
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