O livro de ficção mais complicado já escrito.



   Escrito nos primórdios da impressão, esse livro raro é um dos itens de colecionadores mais cobiçados de todos os tempos. Acredita-se que haja não mais que uma dúzia em todo o mundo.
   Embora seja escrito principalmente em italiano, o autor se deu ao luxo de colocar trechos em latim, grego, hebraico, árabe e até em hieróglifos egípcios.

   O título do livro é  Hypnerotomachia Poliphili que, em uma tentativa de tradução do grego consegue-se algo como "A luta amorosa em sonho de Poliphili". Mas é claro que um livro com a fama de ser o mais complicado já escrito não teria um título tão simples. Este é apenas um título resumido. O título completo é:
Hypnerotomachia Poliphili, ubi humana omnia non nisi somnium esse ostendit, atque obiter plurima scitu sanequam digna commemorat. 
 Traduzindo do latim: Hypnerotomachia Poliphili, onde humano nem tudo só sonho é espetáculo, e falando nisso é o bastante para ser digno de recordação.
   A história em si nem é tão complexa, o complexo é a linguagem usada para contá-la. Escrito em um bizarro italiano latinizado, o texto inclui, como já destacado aqui, trechos em hebraico, grego, árabe e até um idioma desconhecido, possivelmente criado pelo autor. E não me refiro apenas a linguagem idiomática mas também a linguagem literária.

   O livro conta a história de Poliphili. Um homem que busca a sua amada ninfa Polia em seu sonho. Neste sonho ele passa pelos mais variados cenários, entre florestas, paisagens, arquiteturas variadas, e enfrenta dragões, lobos, deuses mitológicos, castelos, labirintos. Seus sonhos são bizarros e repletos de significados profundos. E a história é intercalada com explicações sobre música, literatura, arte, etc, como que querendo assumir uma função didática. 
    O protagonista é chamado de Poliphili mas a verdadeira identidade dessa personagem está indicado em código no livro. Juntando as primeiras letras de cada capítulo se lê a frase:  POLIAM FRATER FRANCISCVS COLVMNA PERAMAVIT. "Irmão Francisco Colonna
amava muito Polia." Francisco Colonna foi realmente um monge dominicano da época.
   O autor é anônimo e somente seu genial editor, Aldus Manutius, é creditado no livro. Manutius decorou o livro com dezenas de xilogravuras que mostra que o público alvo não eram os intelectuais, mas pessoas comuns, que gostam de ajudas visuais em suas leituras. Estudiosos debatem a autoria do livro. As principais teorias são  Leon Battista Alberti, o famoso Lorenzo de Medici e o próprio Francisco Colonna.
   Em minha opinião, o livro representa a luta para matar a curiosidade. O nome do protagonista significa "Quem gosta de Polia", mas Polia significa "muitos", "variedade". Por esse motivo o autor se esforça em mostrar uma variedade de idiomas, culturas, arquitetura, mitologias; e também acrescenta elementos de romance, terror, erotismo, comédia, drama, fantasia e até didática à história. Me parece que a mensagem que o autor quis passar é: a luta que travamos, descobrindo talvez coisas que não desejamos, para saciar nossa curiosidade "luxuriante" pelo conhecimento, pelo qual somos apaixonados. Mas é claro, esse é meu entendimento, e não é absoluto.

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Fernando Vrech. Imagens de tema por andynwt. Tecnologia do Blogger.