O que Diabos é um Gênio?




   "Um espectro palhação que concede três pedidos." É assim que a cultura ocidental talvez definiria um gênio, baseando-se em como o cinema e a televisão o mostra. Mas na realidade, quando falamos em gênios, estamos falando de uma crença tão antiga que talvez remonte mesmo à pré-história! Uma crença que foi sofrendo adaptações culturais e hoje se apresenta totalmente distorcida.
   Alguém mais sabichão talvez diga que os gênios são provenientes da crença islâmica dos Jinn, ou seja, são parte da mitologia islâmica. E ele estaria certo em dizer os gênios são parte da mitologia islâmica; mas estaria errado se dissesse que o islamismo deu origem à crença em gênios.
  Mas antes de falarmos das origens dos gênios, vamos falar em como os gênios foram caracterizados como são hoje.


   Os Gênios da Lâmpada

   A palavra "gênio" não é, como muitos pensam, uma espécie de aportuguesamento da palavra árabe Jinn. Gênio vem, na realidade, da mitologia romana. Os genius eram espíritos guardiões de pessoas do sexo masculino (as mulheres tinham as junos). Eram os anjos da guarda da mitologia romana. 
  Aparentemente, o primeiro a traduzir assim os Jinn foi Antoine Galland, o primeiro tradutor das Mil e uma Noites para um idioma ocidental, o francês. Pelo visto, ele encontrou na palavra gênio (génie, no francês) uma semelhança aproximada tanto no significado quanto na pronúncia.
   Mas a principal característica dos gênios, tal como concebemos atualmente, não proveio das Mil e uma Noites. O famoso Gênio da Lâmpada veio de uma das histórias que Galland incluiu na obra para completá-la, a história de Aladin. Na verdade, apenas cerca de um terço da obra original das Mil e uma Noites se manteve até os dias de hoje; os tradutores e copistas tendem a acrescentar novas histórias folclóricas para completar as mil e uma noites que se passam no livro. Galland acrescentou as histórias de Alladin, Simbah e Ali-babá. Ironicamente, as histórias mais famosas das Mil e uma Noites não estão contidas no texto original.
   A história de Aladin é difícil de ter sua origem rastreada, uma vez que Galland a recolheu da tradição oral, ouvindo-a de um sírio chamado Youhenna Diab, quando este viajou para Aleppo, na França, isto, segundo consta em seu diário na data de 25 de Março de 1709. Alguns fragmentos de manuscritos contendo o nome Aladin, tambem foram encontrados e arquivados na  Bibliothèque Nationale, de Paris.
   Na história de Aladin, o gênio aparece concedendo pedidos ao dono da lâmpada mágica. Já em outras histórias das mil e uma noites, os Gênios aparecem geralmente como entidades livres, sequestrando mulheres e interagindo de outras formas com seres humanos sem serem necessariamente bons ou maus.


   Os Jinn da Mitologia Islâmica

Acredite! Os Jinn eram os culpados por tudo. 
Até pela dor de dente.
   Os islâmicos creem que os Jinn foram criados por Deus cerca de dois mil anos antes dos seres humanos, estando abaixo dos anjos em poder. Diferentemente dos humanos, que foram criados a partir do elemento terra, os Jinn foram criados a partir do ar e do fogo. Esse povo pré-humano foi se tornando perverso conforme foram ignorando os avisos de Alá. Os anjos, então, são enviados por Alá para batalhar com os Jinn.
   Os Jinn sobreviventes foram expulsos do paraíso e teriam se instalado nas Montanhas Káf, que, segundo a tradição islâmica, seriam as montanhas que circundam a Terra, que criam ser plana.
   A disposição deles para com os seres humanos é obscura. Alguns Jinn são claramente maus; outros parecem querer ajudar os humanos, mas fica sempre a suspeita de estarem agindo por algum benefício próprio, não raro manipulando pessoas.
  Os Jinn aparecem no alcorão umas poucas vezes sempre denotando a necessidade que eles também tem de redenção divina, como os humanos.
  Os Jinn, como raça pré-adâmica são semelhantes aos humanos quando resolvem aparecer para eles, mas são invisíveis na maior parte do tempo. Eles também precisam beber e comer; também se casam e morrem. 
   Para o Islã, o diabo é um Jinn chamado Iblis, que se recusou a aceitar a criação de Adão. Outrora granjeando prestígio entre um anjos, como um Jinn especialmente sábio, e mesmo vivendo entre os anjos, embora não fosse, Iblis foi expulso do Paraíso por sua arrogância. Crê-se que Iblis seja um Jinn especialmente mau que tem inveja dos humanos.


   O Jinn pré-Islâmicos

   Maomé não inventou os Jinn, ele reinterpretou a crença nessa criaturas, para se adequarem ao islamismo. A crença nos Jinn remonta a tribos antigas do Oriente Médio.
   Para essas tribos, os Jinn eram criaturas mágicas que habitavam lugares desolados como desertos, pântanos e outros lugares sujos.
   Homenagens poderiam ser prestadas aos Jinn para apaziguá-los mas não eram normalmente venerados como deuses. Alguns orientalistas crêem que Jinn seriam uma marginalização de deidades que foram perdendo a importância conforme outros deuses foram ganhando maior veneração por parte desses povos.
   Uma espécie de Jinn mais poderosa eram os Efrits. São mais maliciosos e indolentes que os Jinn comuns. Os Efrits aparecem frequentemente nas histórias originais das Mil e uma Noites e a sua crença também remonta a tempos pré-islâmicos.
   Um Efrit é retratado como sendo um ser de fogo, com chamas saindo pela boca e olhos. Podiam ser constituídos de fogo ou de fumaça, apresentando a cor vermelha ou negra.
   Crê-se que, mesmo sendo mais perversos, poderiam ser capturados e escravizados por meio de procedimentos mágicos. Isto dá fundamento à história do gênio da lâmpada e sua obrigação de conceder os desejos de seu amo. O gênio da lâmpada de Aladdin, neste caso, seria um Efrit.

   Notaram como a crença nos gênios foram sofrendo uma drástica mudança ao longo dos séculos? Se pudéssemos escolher entre encontrarmos um furioso Efrit ou um espirituoso gênio da lâmpada, certamente escolheríamos o da lâmpada; porque este foi construído para se adaptar às necessidades na nossa cultura moderna.



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