Dicas de Não-Leitura, ou... Livros Ótimos para Alimentar sua Lareira





  Já teve aquela sensação de que você empreendeu meses da sua vida lendo algum livro (porque te disseram que ler livro faz bem para a mente e tals) mas sem que você se sentisse melhor do que estava antes? Ou seja a sua leitura não lhe acrescentou nada, nem mesmo divertimento. Eu já tive essa sensação várias vezes. Então eu decidi escrever este artigo, que ficou com dois títulos (escolha o que lhe agradar mais).
  Sabemos que o livro mais mal escrito do mundo pode ser um entretenimento válido, a história mais monótona pode funcionar e até um livro cheios inverdades pode nos acrescentar algo quando nos propomos a criticar o que foi escrito. Então, que critério usar para classificar um livro como total perda de tempo? A solução que eu encontrei foi usar o critério da funcionalidade: se o livro não funciona para o que se propôs... não passa de combustível de lareira.
  Portanto, um livro de auto-ajuda que não te ajuda, um livro didático que te ensina coisas que você não precisa aprender, um livro de ficção que te chateia, um livro de filosofia que não te deixa mais intelectual, um livro de economia que te deixa pobre... espere exemplos disso aqui nesse artigo, ok?
  Muitos desses livros ainda estão à venda em livrarias como na Amazon. Não deixarei o link aqui, porque isso é mais coerente com a minha recomendação que é de não lê-los.
  Alguns itens dessa lista maldita que se segue farão você se rachar de rir, outros itens poderão deixar você zangado, já que são obras famosas de escritores aclamados (aclamado até por mim). Prepare-se portanto para um misto de emoções. Se quiser discordar... aqui no "Histórias" você sempre terá a total liberdade para tanto.


Hamlet, de William Shakespeare


   Essa obra aclamada já peca pela falta de criatividade, já que Shakespeare pegou uma história da mitologia egípcia, mudou as personagens de nome, mudou a ambientação e pronto: algo teatralizável. Podia ser uma novidade na época, mas a história de Hamlet vem se tornando cada vez mais chata conforme a historinha básica do príncipe cujo tio invejoso conquista o trono matando o irmão, que é rei e pai do príncipe, então o príncipe é exilado e pede a ajuda de um mago para virar um homem feito até que tenha a habilidade para reaver o trono, que é seu de direito, e vingar a morte do pai, vai recebendo releituras e sendo reutilizada de forma industrial, inclusive na forma de desenho animado com leões cantantes. 


2666, de Roberto Bolaño

  "Chocante", "Ousado"... talvez lhe recomendarão esse livro de 850 paginas usando esses termos. Seriam termos cabíveis que realmente descrevem o livro mas isso não significa que o livro funcione.
  São diversas histórias, histórias dentro de histórias, tudo meio remendado; parece que o autor tentou chegar a algum lugar, criar alguma coesão... mas não.
 Eu não diria que esse livro é completamente inútil se não fosse a quarta parte do livro, intragável, onde você vai enjoando por excesso de informação enquanto o autor descreve para você mais de cem crimes de estupro que ele imaginou para a cidade fictícia dele, Santa Tereza. Eu acho que, se um livro tem uma parte tão grande que é extremamente enjoativa, o livro com um todo não funciona. Que brilhe então a nossa lareira.


Ulisses, de James Joyce


  Para entender esse livro você precisa ter um amplo vocabulário e se propor a uma leitura árdua. Dito isso você já percebe que é uma ficção que não funciona como entretenimento.
  A proposta de James Joyce era criar uma releitura da Odisséia de Homero. Se ambienta na Irlanda, um país bem católico, e o protagonista é um judeu que sai para passear com o amigo. Nesse ínterim, os dois personagens se propõem a um longo debate sobre questões filosóficas, e nesse ponto, eu diria a partir do capítulo 9, a narrativa se perde e James tenta fazer um livro filosófico, mas que também não funciona.
   Um híbrido entre ficção e filosofia que não funciona em nenhuma das funções, estando mais para uma espécie de ensaio do autor, sua própria opinião para assuntos diversos. Combustível para a lareira.


Meu Filho Meu Tesouro, de Benjamin Spock
 

  É uma obra até interessante, com bons conselhos sobre os cuidados com os bebês, escrito pelo famoso pediatra Benjamin Spock.
  Mas um livro cheio de conselhos úteis se torna completamente inútil se um desses conselhos levar o bebê, simplesmente, à morte súbita!
  Uma ideia muito popular defendida por esse livro é a de colocar o bebês para dormir de bruços. Atenção, mães, nunca, mas NUNCA siga esse conselho, nunca ponha seu bebê recém-nascido para dormir de bruços. Essa posição para dormir foi identificada como sendo a principal causa da chamada Síndrome da Morte Súbita Infantil (SMSL). A primeira instituição científica a identificar a importância de colocar o bebê para dormir de barriga para cima foi a Fundação para o Estudo da Morte Súbita Infantil, atualmente, Lullaby Trust. A doença ainda é um mistério mas o número de mortes por essa Síndrome caiu pela metade no Reino Unido quando as mães passaram a serem orientadas a colocarem o bebê para dormir deitado de costas.
   O fato desse livro ser um fenômeno de vendas, só não superando a Bíblia, traduzido em mais de 40 idiomas, certamente, foi o responsável pela letal desinformação de  milhões de mães sobre a posição segura de recém-nascidos dormirem.
  Um livro sobre cuidados com a saúde do bebês que pode matar o seu bebê... arda-o na lareira... ele ainda é vendido para mães desavisadas.


Gestão Doméstica da Senhora Beenton
(Mrs Beeton's Book of Household Management), 1861


  A época vitoriana... uma época de ignorância na área da medicina. Simplesmente um terço dos filhos morriam antes de chegarem na puberdade. 
Pense em bebês usando mamadeiras de vidro com tubo de borracha. Uma maravilha da tecnologia, e perfeita para bactérias mortais.
  No livro, a senhora Beenton apresenta a praticidade das chamadas "Feeding Bottles" (Garrafas de Alimentar) e avisa as mamães que não precisam lavar o tubo de borracha por semanas!





O Pequeno Livro de Números Aleatórios, de James Mcalley
 

  Que tal um livro de um escritor que não escreve nenhuma palavra dentro do livro? Apenas números. Números estes que, ainda por cima, não têm nenhuma razão de existir.
  James Mcalley simplesmente achou que um livro com números escolhidos ao léu seria útil para... para quê?
  Porque não abre uma página desse livro e joga na loteria? Não, obrigado eu prefiro os meus próprios números aleatórios. 
  Atualmente, cinco páginas desse livro podem ser "lidos" gratuitamente na página de venda do Amazon, para deixar você curioso para comprar e ver os próximos números aleatórios da página seis. Ããh... teria traduzido para o português?


Como Cagar no Mato, de Kathleen Meyer



  Andam mandando muito você ir cagar no mato? Porque não se informar e fazer isso de forma graciosa?
  A ambientalista Kathleen Meyer achou importante escrever 136 páginas de orientações, do tipo "faça você mesmo", sobre cagar no mato.
  Se preferir eu dou orientações sobre isso em duas sentenças: cave um buraco, abaixe as calças e...









Dating for Under a Dólar 301 ideas, de Blair Tolman
(Encontros por menos de um dólar, 301 idéias) 



  Um livro de 99 que trás centenas de ideias para encontros românticos que custam menos de um dólar.
  No caso de alguém querer traduzir esse livro para o Português, o título pode ficar assim: "301 Idéias para Mostrar para o seu Crush que Você é Mão de Vaca Logo no Primeiro Encontro."











Moby Dick, Herman Melville
 


   Na época, os críticos e o próprio público eram unânimes: livro horrível. Um fracasso de vendas e nem de longe o livro mais vendido desse escritor. De algum modo, muito tempo depois, a história de Moby Dick foi se tornando um "clássico" da literatura; principalmente por ter chamado a atenção dos acadêmicos pela técnica narrativa.
  É verdade que muitas histórias boas só são valorizadas décadas após a morte do escritor. Na época os leitores e os críticos achavam o livro ruim, maçante e chato mas, atualmente, se você pegar o livro para ler, provavelmente vai achá-lo ruim, maçante e chato mesmo. Já os críticos... vão elogiá-lo babosamente, de capa a capa.
  A ficção do livro é grandiosa e emocionante, mas ela compreende menos da metade das mais de quinhentas páginas do livro. Durante a maior parte do livro, o autor se perde e nos perde em oceanologia obsoleta da época vitoriana. 
  Na verdade a ficção do livro não passa de uma ferramenta para prender o leitor durante as monótonas centenas de páginas de explicações mal feitas sobre a biologia das baleias, sobre navios baleeiros e assim por diante.
  Moby Dick é um conto, na verdade, que foi estendido com essas explicações para se tornar um romance. Muitos dirão que é para testar o leitor, que é de propósito, para gerar expectativa... mas não, 70 por cento do livro é chato mesmo e acabam estragando a história.



Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, John Maynard Keynes


  Um livro de economia escrito por um economista que perdeu 80% de seu capital investindo em ações. Pasme, atualmente muitos países seguem de perto seu modelo econômico, a tal da Teoria Geral do livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda.
  Nesse tratado econômico o economista expressa umas ideias bobas como dizer que vale mais a pena dar seu dinheiro para o governo usar do que entesourar para emergências; ou a ideia de que a estabilidade econômica de um país é dependente de injeções financeiras feitas pelo Estado, não podendo se estabilizar naturalmente. E outras ideias que soam como grandes bobagens.
  O keynesianismo, como ficou conhecida sua teoria, apesar de ser referência para vários governos pelo mundo, já foi criticado por muitos outros economistas como Friedrich A. von Hayek, Jacques Rueff, Henry Hazlitt, Murray Rothbard, Juan Rallo, Ludwig Lachmann, Ludwig von Mises e William Hutt.
  Um livro inútil que não vai deixar ninguém mais rico, talvez o Estado.



Sobre a Genealogia da Moral, de Friedrich Nietzsche

 

  Os piores filósofos da Terra sãos os sofistas. A linha filosófica que ataca a própria verdade como sendo algo inexistente. Tudo é subjetivo, tudo depende de um ponto de vista.
  "A verdade não existe, acredite em mim porque é verdade." O ensinamento dos sofistas é auto-refutatório. Não dá para levar a sério alguém que prega que a verdade não existe, já que essa própria filosofia precisaria ser verdade; a própria ideia precisaria ser falsa para ser verdadeira...
  Friedrich Nietzsche também escreveu uma espécie de sofismo em seus escritos. Criticou muitos filósofos clássicos, inclusive Platão (o principal adversário do sofismo grego).
  Talvez o pior trabalho de Friedrich Nietzsche seja Sobre a Genealogia da Moral.  Foi o único que li e bastou para mim.
  As dissertações do filósofo são completamente ininteligíveis, não são complexas como a filosofia clássica, são totalmente confusas.
  Acho que muitas pessoas leem Friedrich Nietzsche pelo efeito de perplexidade que seus escritos proporcionam ao leitor. Alguns consideram esse efeito libertador e fazem a maior viagem interpretando a filosofia de Nietzsche. Francamente, o pensamento de Nietzsche é algo sem pé nem cabeça, e o livro em que ele relativiza o conceito de moralidade é talvez o pior de todos.
  Em nenhum livro que você ler desse filósofo você se sentirá mais esclarecido depois, mas se sentirá apenas desmotivado. Um livro de filosofia que tem esse efeito sobre o leitor é inútil.


  Há livros do tipo populares que, de tão famosos, não permitem que passe pela nossa cabeça fazer uma pesquisa sobre o assunto tratado. Nenhum livro é uma "autoridade" no assunto que se propõe a tratar, podendo estar perigosamente errado nos conselhos que dá (lembre-se dos livros sobre cuidados com bebês dessa lista). Acho importante ressaltar a pesquisa abrangente sem nos fecharmos em uma única abordagem do assunto. É arriscado se fechar em um único ponto de vista.




2 comentários:

  1. Vou começar do começo.rsrs
    Eu escolho o título "Dicas de não-leitura", uma vez que não tenho lareira.
    Que bom... Eu não li nenhum dos livros da sua lista.

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