O que é semântica?
Em conversas, principalmente debates, às vezes aparece um metido e diz: "É tudo uma questão de semântica"... ou então "vai mesmo discutir semântica comigo?"... nessas horas seria muito legal sabermos que é essa tal de semântica, para não deixar o metido ainda mais metido a besta.
Vou inaugurar um novo assunto no 'Histórias de Mistérios" para explicar a tal da semântica, o tópico "Linguística". Porque? Porque é importante um escritor saber linguística, que é o estudo do idioma, afinal, para escrever, usamos o idioma, certo? Somente aprendendo linguística temos domínio do idioma, ou de vários idiomas, ou de idiomas mortos, muito antigos... tudo isso ajuda a criar histórias intrigantes e agradáveis de serem lidas. E semântica é primordial para um escritor escrever textos ricos em significado. Essa importância você compreenderá se continuar lendo esse artigo.
A semântica é o estudo do significado que é atribuído às palavras. Isso passa longe de ser um assunto binário. Tipo: tal palavra significa isso e a outra palavra significa aquilo... porque a espécie humana pode pensar de forma abstrata, podendo atribuir inúmeros significados novos, ou até significados momentâneos, às palavras que, originalmente, não possuíam um significado tão diverso.
Quando consideramos o significado convencional de uma palavra, ou seja, o significado original, aquele que aparece no dicionário, chamados de significado denotativo, o sentido "aurélio" das palavras.
Mas podemos atribuir um significado momentâneo para as palavras, diferente do denotativo, que pode ser compreendido por interpretar o contexto. Pode ser uma metáfora ou pode ser um significado parecido. Nesse caso, quando o significado é compreendido pelo contexto, dizemos que é um significado conotativo.
Está frio, hoje! - "Frio" está sendo usado em seu significado original denotativo.
Joana é muito fria em seus atos. - Agora "frio" está sendo usado como metáfora, em um significado conotativo.
Como a denotação é mesmo um assunto binário, a semântica se aprofunda mais no estudo da conotação das palavras.
Mas, dentro do estudo denotativo temos alguns conceitos a considerar como os antônimos, sinônimos e homônimos. Mas não vou considerar matéria da terceira série nesse artigo, seria perda de tempo.
Apesar disso, ainda há um conceito que passa despercebido na maioria do conteúdo das escolas: o hiperônimo e o hipônimo.
Hipernônimos são palavras que tem um significado muito amplo, e os hipônimos são palavras mais específicas. Veja o exemplo.
Eu amo os animais. "Animais" são um porção de seres: cobra, inseto, mamífero, verme... A pessoa que diz que ama os animais, mas não ama as lombrigas, as baratas e os ratos, não usou a palavra certa para se expressar, porque "animais", como já vimos, é um hiperônimo que tem um significado muito amplo.
Talvez tal pessoa, deveria dizer algo como: "eu amo os passarinhos, os cães e os golfinhos." Nesse caso, "passarinho", "cão" e "golfinho" são hipônimos, com significado mais específico. Dizemos que são hipônimos de "animais".
Quando estudamos a conotação das palavras, todo o estudo do significado denotativo tem uma versão conotativa. Os antônimos e sinônimos do significado original da palavra, são a antonímia e a sinonímia para o estudo conotativo das palavras. Veja exemplos.
Joana tem o coração frio e duro. "Frio" e "Duro", em seu significado original, denotativo, não são sinônimos, mas, aqui, são usados como se fossem. É um exemplo de sinonímia.
O Juca é bonzinho, mas o Jonas é o capeta! "Bom" e "Capeta" não são antônimos, no sentido denotativo, mas aqui são usados como se fossem antônimos. Um exemplo de antonímia.
Quando estudamos semântica, encontramos fenômenos interessantes, que se tornam ótimos recursos para o escritor.
Essa capacidade que muitas palavras possuem de ter mais de um significado, é chamada de polissemia. Tais palavras polissêmicas, resultam em um fenômeno chamado de ambiguidade
A ambiguidade é quando uma frase pode ser interpretada de diversas formas, mas que possui uma forma correta, ou, ao menos, principal, de ser entendida, ou seja, uma frase cujo significado correto pode ser encontrado pelo contexto.
Por exemplo, se eu digo que vou torcer a roupa para secá-la, obviamente, não estou dizendo que eu vou ficar pulando e dizendo: Seca! Seca! Seca! Um escritor pode brincar muito com a ambiguidade, gerando diálogos engraçados e confusões propositais; ou até atribuir um significado secundário ao texto.
Pode haver ambiguidade até mesmo sem o uso de palavras polissêmicas, apenas pela posição de determinada palavra em uma frase:
Pessoas que têm uma alimentação equilibrada frequentemente são felizes. Essa frase pode significar que é frequente pessoas serem felizes por terem uma alimentação equilibrada e também pode significar que as pessoas só poderão ser felizes se a alimentação equilibrada for frequente. Ou seja, a posição da palavra "frequentemente" pode ser tanto um advérbio de "felizes" quanto de "alimentação".
Para um escritor, é fundamental o estudo da semântica. É com a semântica que ele torna o texto mais vívido... os poetas enchem seus textos de metáforas, os escritores de prosa usam a ambiguidade de forma maestral para esconder sentidos nos diálogos, confundindo o leitor ou mesmo dando pistas para um entendimento mais profundo do que ele quer passar.
Mas o mais legal é brincar com a semântica criando verdadeiros enigmas. Por exemplo:
Vendo a vista.
Essa frase possui muitas formas de ser interpretada: Pode ser que eu estou vendendo algo e espero pagamento a vista, pode ser que eu estou dizendo que estou vendendo meus olhos, ou pode ser também que eu estou dizendo que eu estou colocando uma venda em meus olhos. Coloque nos comentários se você encontrou mais um significado nessa frase, provavelmente tem mais.
Bom agora, você já sabe o que o metidão da conversa diz quando fala de semântica. Então, não fique "boiando" e dê "duro" nesse "mala" para deixar "claro" que você não é nenhum "burro".
Nossa, não fazia ideia do que significava. Muito legal o post, sucesso com o blog.
ResponderExcluirhttps://strangerboy01.blogspot.com.br/
Muito bom, Fernando.
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