As Impensáveis Origens das Expressões Populares






   Provavelmente você já usou uma expressão popular, às vezes nos lembramos de uma frase famosa que se encaixa perfeitamente na ocasião ou no evento que estamos comentando. Mas talvez não saiba que muitas dessas frases são ditas errado e, portanto, são aplicadas às situações erradas. Ou você talvez não saiba que você já fez referência a coisas... safadinhas, sem saber; ou então já fez referência a eventos históricos dignos de estar no vestibular, e infelizmente para as suas notas... sem saber. 
   Expressões populares são mais importantes do parece no campo da linguística. Logo nos damos conta de que não basta saber o significado das palavras, temos que saber também sobre as expressões idiomáticas, como são tecnicamente chamadas as expressões populares.
   Vamos considerar neste artigo as expressões de significado mais inusitado, coisas tão impensáveis que te fará rir à toa; "à toa" mesmo já é uma expressão popular, como veremos à seguir.


Pagar o Pato...


   Essa expressão tem origem na literatura. É oriunda de um conto medieval do escritor italiano Giovanni Bracciolini, do século XV.
   Na história, um homem oferece um pato para uma mulher casada em troca de sexo. Mas o homem queria mais e, entendendo que o acordo era por uma só vez, a mulher se negou e começou uma discussão na casa da mulher. O maridão chegou em casa ouvindo a discussão sobre um tal de pato e perguntou "Qual o problema". O outro homem responde que faltam "dois vinténs para pagar o pato." O marido então ... paga o pato sem nem suspeitar de nada.
   Você tinha imaginado o quão safadinha era essa expressão tão utilizada hoje?








Dar com Burros n'Água...


   Significa fazer um grande esforço ou empreendimento e por tudo a perder por um vacilo, ou mesmo por conta de um imprevisto. 
   A origem dessa expressão brasileira vem da época dos bandeirantes, onde burros eram usados com muita frequência para transportar as riquezas naturais brasileiras. Como os bandeirantes iam fundo pelo país em busca dessas mercadorias valiosas, encontravam estradas precárias e atoleiros tão profundos que afogavam os burros, estragando também  as mercadorias que carregavam. Assim, os bandeirantes começavam a usar a frase "Dei com burros n'água."


A Cobra vai Fumar...

   Durante a Segunda Guerra Mundial, certo jornalista carioca afirmou que seria mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra. Quando o Brasil entrou na Segunda Guerra, a FEB (Força Expedicionária Brasileira) escolheu como símbolo uma cobra fumando, em provocação ao jornalista. Com o tempo a expressão "A Cobra vai Fumar" também se tornou popular com o significado de "algo muito difícil de acontecer mas altamente destruidor caso aconteça."






Rodar a Baiana...


   Nas festividades cariocas durante o início do século XX, principalmente no carnaval, alguns malandrões, conta a lenda, apertavam a bunda das  mulheres vestidas de "baiana", enquanto elas rodavam nos desfiles. Para evitar isso, alguns capoeiristas se vestiam de baiana e rodavam juntos com elas. Quando um safadinho desavisado apertava um capoeirista levava um chute na cara (que devia doer, que já que o capoeirista já estava às voltas, acumulando velocidade). Como era bem difícil distinguir a "baiana" do... digamos... "baiano," debaixo daqueles vestidos folclóricos, o costume de bolinar as "baianas" acabou. 
   Hoje em dia, "Rodar a Baiana" tem o sentido de "Dar um sermão severo", "Perder a calma com engraçadinhos".


Comer com os Olhos...


  Provavelmente provém de uma festividade fúnebre romana onde se preparava um apetitoso banquete aos deuses. Como a comida era para os deuses, ninguém comia, apenas admirava a comida com os olhos. Hoje em dia essa expressão significa "admirar avidamente algo (ou alguém ehehe) que não se poder ter".




Com vocês... o tal do Benedito. E sim, foi o Benedito.

Será o Benedito!...


   Essa expressão provém da época do governo Vargas, onde o mesmo ficava enrolando para se decidir sobre quem seria o governador do estado de Minas Gerais. Tinha uma turminha em Minas Gerais que detestava um dos candidatos ao cargo, um tal de Benedito Valadares, e ficavam por aí resmungando: "Será o Benedito?" "Mas será o Benedito?".
   A expressão viralizou pelo Brasil inteiro com o passar dos anos, e é usada até hoje para exclamar diante de uma situação inesperada, principalmente situações indesejáveis. Seria um dos primeiros memes brasileiros, no caso.






Dar de Mão Beijada...


   Significa simplesmente dar algo de graça. Na época bizantina, muitos nobres e ricos do império vinham até o papa e, após beijarem a sua mão, doavam terras e riquezas para a igreja.


Corro de Burro quando Foge...


   Mesmo sendo dito errado, faz sentido "Cor de Burro quando Foge", já que o burro muda para uma cor mais pálida após correr por vários quilômetros. Mas a expressão original era "Corro de burro quando foge", corro como substantivo significa "caminho, pista, estrada." Sabemos disso graças ao linguista Antônio de Castro Lopes, do século XIX, que registrou o dito popular original em seu trabalho.


Quem tem Boca Vai a Roma...


   Esse provérbio é dito errado, mas somente à partir do momento que alguém tentou "corrigi-lo". Isso mesmo, o ditado original é como dizíamos antes "Quem tem Boca Vai a Roma". Ficou popular a ideia de que o ditado sofreu uma cacofonia a partir de uma tal de "Quem tem Boca Vaia Roma.", mas essa ideia saiu da pura imaginação de alguém uma vez que o ditado é internacional, existente em idiomas onde a tal da cacofonia não seria possível como o ditado espanhol "Preguntando se va a Roma" ou o francês "Qui langue a, à la Rome va."
   A quarenta anos atrás o escritor Raimundo Magalhães Jr já registrava o ditado como "Quem tem boca vai a Roma" em seu Dicionário de Provérbios (1974).




De Meia-Tigela...


   O que tem a ver a tigela com a competência da pessoa? Pois é; era assim na monarquia portuguesa, os empregados que trabalhavam melhor recebiam uma tigela inteira de comida, já alguns trabalhadores tinham o status de "meia-tigela." Status esse que, com tempo virou um xingamento na Língua Portuguesa.


Escarrado e Cuspido...


   Talvez não suportando a nojeira dos termos, os populares da atualidade tendem a dizer que o ditado original seria algo como "Esculpido em Carrara", um tipo de mármore nobre, ou então há quem diga que o original é "Esculpido e Encarnado". A tentativa é nobre: deixar o ditado mais bonitinho, sem nojeira... mas não, o ditado sempre foi sobre o cuspe mesmo.
   Podemos traçar uma origem na expressão em inglês arcaico "Spit and Image" (Cuspe e Imagem), popular no século XVII e sofrendo variação no século XIX como "Spitting Image" (Cuspindo imagem); ambas expressões fazendo alusão ao cuspe com a semelhança de alguém, insinuando que um é tão parecido com o outro que teria sido criado pelo cuspe desse outro.
   Já o acréscimo do "escarro" ao conceito é cortesia dos nossos queridos descobridores, os lusitanos... obrigado Portugal, por essa linda contribuição para uma expressão já linda desde a origem... muito poético.


Á Toa...

   Quase me esqueci de falar sobre a origem de "à toa", que possui significados que variam dentro do conceito de "não serve para nada", chegando até a ser um eufemismo para vagabunda em "mulher à toa."
   Bom, uma toa era (ou é) um cabo para amarrar embarcações, para que os navios não ficassem à deriva pelas redondezas dos portos. Ora, para que serve um barco amarrado? Para nada. Então, quando dizemos que uma pessoa está à toa é meio que dizer que ela está "boiando" imóvel (amarrada) por não ter nenhum lugar para ir ou para fazer.





   É isso aí, amigos leitores, se surpreenderam com alguns dos significados desse artigo? Eu confesso que eu já fiquei por aí corrigindo, "é 'vaia,' de vaiar e não 'vai a,' seu burro"; depois que eu me prestei a sentar a bunda na cadeira para estudar, percebi que o burro era eu... rs rs.



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